A 16ª edição da Casa Cor BH conquista definitivamente o respeito e a admiração do público em geral e dos profissionais que dela participam ou apenas a visitam, como foi o meu caso. Sempre inovando, em 2010 não podia ser diferente. Firmou-se como referência de qualidade e conquistou em nosso calendário, a tradição anual de apresentar novos conceitos, além de uma boa opção de entretenimento e gastronomia (ok! Restrito as classes um pouco mais economicamente privilegiadas, visto que lá, nada é muito 'barato'. A começar pelo preço do ingresso, esse ano no valor de R$36,00 por pessoa. Caso queira adquirir a revista anuário, deverá desembolsar mais R$20,00 e se ainda optar pelo serviço de manobrista, a mim indispensável seja lá qual for seu preço, serão 'apenas' mais R$15,00. Isso fora o lanchinho, jantar...).
Definitivamente não é um passeio qualquer. Ali você encontra muito além de diversão, comida e arte. Hoje a Casa Cor, também é significado de conceito: Design, brasileiridade (ainda que modesta), tecnologia, criatividade, e como não poderia faltar, o ''hit'' da nova era, a sustentabilidade.
Uma das novidades é que pela primeira vez, a mostra está sendo realizada em um Edifício. O Arcelor Mittal, localizado na av. João Pinheiro, nº 580.
A mostra este ano, é antes de tudo uma homenagem ao renomado Urbanista e Arquiteto brasileiro Lucio Costa, (ainda que nascido em 1902 em Toulon, na França), era conhecido internacionalmente como o inventor da arquitetura brasileira moderna.
O maior evento de decoração do país, apresenta até dia 05 de Outubro na capital mineira, 58 projetos de mais de 70 profissionais, entre arquitetos, designers, decoradores e paisagistas.
O tema em destaque é: Viver com felicidade! ''Sua Casa, Sua Vida Mais Sustentável e Feliz.''
Aos meus olhos, deu certo!
Diferente das mostras do começo da década, a Casa Cor está menos automatizada e virtual. Esse ano, o aconchego e calor humano, são mais visivelmente presentes, quando não vemos Lap-Tops em banheiras de luxo e painéis de luzes de led que mudam de cor a toda segundo, em um simples teto de um Hall ou popularmente conhecido, 'corredor'.
Dessa vez, a preocupação maior era com a escolha de revestimentos que produzem baixo impacto de destruição na natureza, madeiras com certificados ecologicamente correto, móveis modernos, contemporâneos e de design internacional, harmonizados com móveis de artistas brasileiros, como Sérgio Rodrigues, movéis antigos totalmente 'repaginados', além dos elaborados com materiais alternativos, reaproveitáveis, seguindo um contexto de que nada se cria 'tudo se transforma'.
Outro aspecto específico, chamou minha atenção. Ao menos metade dos ambientes, apresentaram alguma das tendências do Saloni di Millano 2010. A conhecida '' Feira de Milão".
Cores neutras em sua totalidade predominaram.
Os espaços em tons de bege, cinza, branco, preto e algum tom terroso, são 'quebrados' com toques ora mais ousados, ora mais discretos, porém quase sempre presentes dos tons de azul. Variando do azul piscina ao marinho, passando pelo turquesa e anil. Podendo ser encontrado em todos e quaisquer cômodos da casa.
Exemplos vistos nas cadeiras de acrílico azul escuro, no banquinho em forma de uma face humana azul turquesa, num jogo de taças azul-carbono e na predominância em tons azulados na linda tela que compõem o ambiente -Sala de Jantar e Circulação- de Patrícia Bomfá. Aparece na cama com cabeceira em box aveludado num tom de azul bem fechado do -Quarto do Jovem Empreendedor- da designer Renata Basques; na sutileza da bela tela totalmente azul, combinando com um discreto frigo-bar em uma preciosa releitura da década de 70, na cor azul clarinho, da Brastemp (um luxo!) do -Estar Íntimo- de Thais Soares e Sílvia Martins da Costa. O AZUL ainda está presente em adornos escolhidos para colorir os ambientes neutros, como um par de vasos em cerâmica azul-turquesa no -Estar da Mulher- de Christianne Taranto; em outra tela dessa vez em um azul mais nobre e na pequena mesinha redonda lateral, no -Home Cinema- da bela Flávia Roscoe; e surpreende em tom de Azul Real nas paredes de alumínio e na inusitada laca azul turquesa-escuro em um belíssimo e poderoso Dunquerque ao fundo do agradavél -Bistrô- muito bem elaborado pela competente Arquiteta Mariana Corrêa.
Sala de Jantar de Myrna Porcaro
Até mesmo a renomada arquiteta Myrna Godim Porcaro, utilizou em sua -Sala de Jantar- uma bela mesa da Tom Sobre Tom em acrílico com vidro laqueado numa nuance de azul-piscina, fazendo contraste com uma tela (ao meu humilde e talvez tradicional olhar cristão, um tanto quanto polêmica. Porém extremamente valiosa no âmbito artístico que ultrapassa todas as barreiras), de uma releitura da conhecida obra de Leonardo Da Vinci, A Santa Ceia: no caso, a pintura mostra as figuras dos 12 apóstolos de Cristo, com os rostos cobertos, como se estivessem enfaixados. Não deixa de criar impacto e como sempre, surpreender pelo luxo, criatividade e junção de conhecimento e conceitos internacionais sempre presentes nas criações dessa incrível badalada profissional.
Outra forte tendência da Feira de Milão, foram as mesas com pés em forma de 'cavaletes'.
Essas, apareceram em diversos ambientes como na -Sala de TV- de Rodrigo Aguiar em versão madeira bruta, no já citados -Quarto do Jovem Empreendedor- e -Estar da Mulher- ambos em madeira; e em uma versão mais moderna, em acrílico laranja, na diferente mesa do -Louge Gourmet- de Christine Boerger e Teia Moretzsohn.
A mesa cavalete também está presente na belíssima mesa Málaga com tampo de vidro, em um dos ambientes de maior destaque dessa edição, no meu ponto de vista: a -Sala de Estudo do Diretor- de Juliana Cavalcante e Natacha Nascif, que juntamente com a -Adega- do jovem arquiteto e designer Cioli Cassius Stancioli, foram os ambientes que mais me surpreenderam por suas peculiaridades.
A 1ª não só por incorporar tendências internacionais, mas como principalmente usar delas através do mobiliário brasileiro de Sérgio Rodrigues, por ex.; pela luminária criativa e sustentável e acima de tudo, por ser uma homenagem ao Diretor mineiro de cinema de curtas, Gilberto Scarpa. Para tanto utilizaram muito bem de artifícios como coleções de livros, dvds, aparelhos de tecnologia e troféus realmente ganhos e gentilmente cedidos para a amostra, pelo cineasta. Isso é que é homenagem em grande estilo!
A 2ª ou seja, a Adega, prima pela sua engenhosidade e criatividade, usando baldes reaproveitados de construção (quiçá da própria obra do espaço), para o armazenamento das garrafas de vinho, maravilhoso revestimento de tijolo estilizado; piso em ladrílico hidráulico, o que dá um certo ar 'regional' ao lugar, além do ''velho e bom quadro-negro'' para anotações em giz. Um charme tão fácil e simples de realizar, decorado com bom gosto atemporal de uma moldura clássica em tom ouro-velho quase bronze. Mas os grandes it's do espaço, ao meu ver, ainda ficaram por conta de um interessante (e dispendioso...) aparelho de som com aparência de ''antiguinho'' da época da vovó, porém de tecnologia atualíssima. E para fechar com chave de ouro de tolo, a surpreendente e 'sustentavelmente correta' obra de arte plástica: uma espetacular escultura de parede, feita totalmente em rolinhos de jornal encaracolados, feitos à mão um-por-um, pintados de bronze e montados com maestria! Infelizmente não consegui descobrir o autor da bela e inspiradora obra... se alguém souber, favor me avisar seu nome para que eu possa dar seu mérito. Em um pequeno espaço o designer mostrou o aproveitamento de materiais, através do conceito de reutilização, respeitando a natureza. Excelente exemplo aos 'grandes' nomes do design de interiores de Minas muitas vezes ''impregnados de estrangeirismos''.
Senti uma particular falta de alguma mensão mais atual dos Irmãos Campana, nessa mostra, como por ex. o uso da nova mesinha Cotto feita de Terracota e pés em alumínio. Destaque para a nova tendência de móveis que não agridem a natureza, feitos de cerâmica.
No quisito revestimento, dei meu pequeno mas sincero crédito, ao arquiteto Alexandre Rodrigues da Costa, que surpreendeu em sua -Cozinha Alternativa- com revestimentos feitos em inox. Os mesmos, aderentes em placas de cerâmicas apresentavam 3 distintos tamanhos: 30cm X 30cm para o piso, 20cm X 20 cm no revestimento de parede e 2,5cm X 2,5cm em detalhes como se fossem pastilhas de vidro. Diferente...! e por quê não reluzente?!
A Casa Cor 'cresceu' e já não é mais a mesma.
Ainda bem!
Vale, e muito sua visita.
Cristiane Antunes